Considerações sobre Respiração e Apoio (Parte 1)

Fernando Zimmermann | 09/10/2013

Esse é o primeiro de uma série de posts que tenho certeza será muito boa para as reflexões vocais tanto de cantores quanto de professores de canto. Espero, realmente, contribuir positivamente no processo de ensino-aprendizagem vocal de muitos. E o tema não poderia ser menos controverso: o famoso APOIO.

Nessa série de posts pretendo relatar muitos aprendizados, considerações e reflexões sobre o que esse fenômeno é, de fato, e como o processo de ensino-aprendizagem foi se modificando a ponto de colocá-lo como a causa de tudo, tornado-se tema mais abordado em muitas aulas de canto. E, claro, tentarei elucidar o por quê que nas minhas aulas (bem como de muitos outros professores ao redor do mundo que compartilham da mesma visão) esse não é nem de longe o tema central. MUITO pelo contrário. Nesse post em específico tratarei do processo expiração-fonação.

CONVERSÃO DE ENERGIA – PROPÓSITO DO PROCESSO

O som vocal é gerado através de uma conversão de energia mecânica (ar criando atrito entre as pregas vocais aduzidas (fechadas)) em energia acústica. Ou seja, converte-se AR em SOM por ação consequente da fricção de ar nas pregas vocais. Esse atrito pode ser maior ou menor dependendo de como se configura a ação das pregas vocais. A musculatura pode estar trabalhando demais, o que gera uma resistência maior que a necessária ao ar, ou estar trabalhando de menos, o que gera resistência insuficiente ao ar. Em ambos os casos há algum desequilíbrio que gera perda no processo de conversão de energia mecânica em energia acústica. Para cada quantidade “X” de ar existe uma resistência “X” de pregas vocais ideal para a boa conversão de energia. Quando a resistência de pregas vocais é inferior à necessária teremos perda de ar (o que deixa quem canta “sem fôlego”). Quando temos resistência demais o som parece preso e quem canta sente tensões bem exageradas e desconfortáveis. Normalmente, nesse caso, a pessoa perde muita ressonância, inclusive. E o mais engraçado é que, para ambos os casos, muitos professores mandam seus estudantes “apoiarem” mais, como se isso fosse a solução para quase tudo no canto.

Mas perceba que quando falamos de conversão de energia mecânica (passagem do ar pelas pregas vocais fechadas, causando o atrito necessário à produção do som fundamental) em energia acústica (ondas sonoras) não falamos em nenhum momento sobre controlar direta ou indiretamente apenas o diafragma ou as costelas. A respeito disso, inclusive, Beniamino Gigli (1890-1957), famoso tenor italiano, pupilo de Ricardo Daviesi (da Schola Cantorum Italiana), relata o seguinte:

Tão logo eu comece a cantar eu esqueço tudo sobre diafragma e costelas. (Beniamino Gigli)

E Beniamino Gigli (e muitos outros famosos cantores, professores de voz, pedagogos vocais e cientistas da voz cantada) diz(em) isso justamente pois não é preciso pensar nas costelas ou no diafragma, mas sim na relação que as pregas vocais estão tendo com o ar expirado. Afinal, o bom funcionamento das pregas vocais é que vai reger a boa conversão de ar em som. Portanto, treinar respiração sem associá-la ao som é improdutivo ao cantor. Essa é a verdade. Isso pois a relação Ar X Fonação é indissociável.

Lembremos, então, que dificilmente o problema está na respiração. Inclusive o próprio Seth Riggs (fundador do SLS, com quem tive o prazer de estudar) diz isso. Seja se você fica sem fôlego ou se você está com a voz “presa”, saiba que sua solução não é “apoiar mais”, mas sim trabalhar melhor o equilíbrio entre ar e pregas vocais.

Espero ter ajudado.

Um abraço e até a próxima!


Fernando Zimmermann


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