O que é preciso para cantar bem?

Luiza Lobo | 21/03/2019
Antes de mais nada, quero começar dizendo que todo mundo pode cantar bem. É isso mesmo! Independente do seu nível atual, se você acha que tem dom ou não. É fato que algumas pessoas podem até sair na frente, com noções de afinação, timbre, ritmo e até mesmo dominando estilos e ornamentos com facilidade. Mas ao longo de vários anos como professora, acompanhando a evolução e a transformação de vozes, afirmo que não há receita mágica para cantar bem, o segredo é um treino correto e estratégia. Na minha própria trajetória vivenciei isso. Até meus 18 anos eu era só uma cantora de chuveiro levemente afinada que recebia alguns elogios de amigos e parentes próximos. Eu até achava que tinha algum jeito, mas quando entrei em minha primeira banda, logo me deparei com muitas limitações vocais, musicais e artísticas. Eu estava longe der ser uma boa cantora. Foi um tempo frustrante, pensei várias vezes em desistir por falta de habilidades natas, mas acabei iniciando uma busca intensa por treinamento vocal e fui colhendo os resultados disso. Vou compartilhar aqui alguns aprendizados.

O mínimo para cantar bem

Em primeiro lugar, cantar bem é emocionar e envolver o público. Não importa o estilo, do rock à opera, tocar o seu ouvinte de alguma maneira é o que vai fazer o público lhe reconhecer como um cantor bom ou não. Como cantores, precisamos então passar uma mensagem. Mas para que isso aconteça, o mínimo necessário é ter um pouco de afinação, ritmo e um domínio vocal viável para nosso repertório. É praticamente impossível cantar bem sem cumprir de forma razoável os requisitos musicais de afinação e ritmo. Isso porque esses aspectos estão dentro dos elementos da música: melodia, harmonia e ritmo. A afinação diz respeito a forma como executamos a melodia e, se estamos afinados, a melodia cantada estará de acordo com a harmonia. Já o ritmo traz o tempo, o andamento da música e até mesmo características do estilo. Algumas músicas podem ter mais ênfase na melodia e, nesse caso, uma afinação muito boa é necessária. Outras músicas podem ser mais ritmadas, ou seja, a batida da música vai comandar o canto e a interpretação. Sobre domínio vocal, é necessário ter o controle para atingir e sustentar as notas das melodias que serão executadas no repertório. Caso isso não seja possível, a consequência lógica é perder a afinação. Existem casos em que o(a) cantor(a) chega nas notas, porém com muita dificuldade ou não consegue manter consistência na afinação (às vezes chega na nota, às vezes não). Essas situações acontecem em geral por falta de extensão vocal causada por problemas técnico-vocais que precisam ser resolvidos. Por isso, uma das primeiras estratégias que precisamos ter quando estudamos técnica vocal é a de aumentar nossa extensão com saúde através de um treino personalizado que atenda às necessidades da nossa voz. Muitas pessoas acabam deixando a desejar na execução das músicas por falta de extensão vocal ou falta de conhecimento sobre como usá-la. Isso pode gerar problemas que vão prejudicar a performance, limitar o repertório e até mesmo colocar em risco a saúde vocal do(a) cantor(a).

Maximizando seu potencial

Com um certo domínio vocal, conseguindo manter a afinação e o ritmo que a música a ser executada pede, já conseguimos fazer boa parte do que precisa para cantar bem. No entanto, para receber aquele “uau” do público, talvez seja preciso um pouco mais. Conseguindo manter os requisitos básicos, nós podemos maximizar nossa performance vocal através do timbre e da interpretação. O timbre diz respeito à peculiaridade de cada som, está relacionado a nossa qualidade vocal e é o que nos permite identificar diferentes vozes. Você com certeza identifica o timbre dos seus cantores favoritos. Basta tocar um pouco da música e, pelo timbre vocal, já sabemos quem está cantando. Porém, apesar do timbre ser bastante pessoal, com técnica e estudo é possível moldar e adaptar o timbre. Essas adaptações podem ser necessárias para deixar a voz mais bonita e equilibrada em relação às necessidades e ao estilo que vamos cantar. Além do timbre, a interpretação das músicas através da voz é outro recurso que destaca bons cantores. O uso de dinâmicas de intensidade, variações de intenção com o texto da música e aplicação de ornamentos pode trazer um excelente resultado na performance vocal. No entanto, interpretar uma música requer uma certa estratégia. Alguns cantores usam elementos sem controle e sem qualidade. Por exemplo: algumas dinâmicas sem consciência podem virar vício, o uso de vibratos em excesso pode dar a sensação de instabilidade na voz, tentativas de melisma podem comprometer a afinação, distorções sem técnica podem prejudicar a saúde vocal. Por isso, é fundamental você conhecer a sua própria voz para cantar bem. Descobrir quais são suas potencialidades e como explorá-las. Entender as próprias limitações e também o caminho para se desenvolver e superar as debilidades. Nosso próprio corpo é o nosso instrumento. Isso é fantástico e complicado de lidar ao mesmo tempo. É difícil cantar bem e com confiança sem entendermos a nossa voz. Mas, se você chegou até aqui nesse texto, é porque realmente está interessado(a) em cantar bem. E, conforme acabei de mencionar, conhecimento sobre nossa voz é essencial. Que tal agendar uma aula de Diagnóstico Vocal com a gente? Escreva pra nós através desse link: http://bit.ly/zapfullvoice   Bons estudos!

Luiza Lobo


Luiza Lobo é Voice Coach e diretora/co-fundadora do Full Voice Studios®, especialista em Ciências da Voz pela Universidade de Coimbra. Dedica-se a explorar o máximo potencial vocal e artístico de cada pessoa e está constantemente se atualizando em cursos no Brasil e exterior para aprimorar o método do Full Voice Studios®

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