Considerações e reflexões sobre o “drive” na voz

Fernando Zimmermann | 03/10/2013

O famoso “drive“na voz é aquele “efeito” rasgado que cantores de rock, heavy metal, blues, soul, e até mesmo de pop e teatro musical, usam para dar uma intenção agressiva ou “rouca” à voz, agregando mais textura e variedade de timbre.

Neste post eu não pretendo dar diretrizes técnicas ou caminhos sobre como você pode despertar ou descobrir o “drive” na sua voz, mas propor algumas considerações e reflexões a respeito do assunto. Como trata-se de um efeito cujas técnicas para se conseguir são controversas (existem muitos professores defendendo caminhos bem distintos para se atingir o resultado), pretendo apenas alertar para que você se sinta sempre confiante de estar seguindo um caminho seguro e eficaz no seu desenvolvimento vocal. Vamos aos pontos:

  1. Conforto: No processo de desenvolvimento do rasgado na voz fique sempre atento(a) à questão do conforto. Se não estiver confortável, é porque está errado. “Mas é possível fazer drive sem se machucar”? Eu respondo: CLARO QUE SIM! Mas sempre há de ser confortável. Procure um professor que respeite os seus limites, mas mantenha-o sempre atualizado das suas sensações de conforto (ou desconforto). O drive correto na voz tem tônus, exige FIRMEZA de uma série de estruturas laríngeas, mas nunca é desconfortável.
  2. Tempo de desenvolvimento: Um efeito de drive vocal bem feito e, acima de tudo, saudável, pode levar um certo tempo para que você tenha domínio da técnica. Permita-se ser guiado por seu professor por todo o desenvolvimento vocal que você precisa. Muitas vezes não treinar o drive, mas sim outras qualidades e habilidades da sua voz, pode ajudar muito você a conseguir resultados ainda mais satisfatórios quando for “rasgar” a voz.
  3. Desenvolvimento vocal completo: Eu defendo uma “bandeira” de que todo cantor que se propõe a ser profissional precisa desenvolver-se plenamente na sua voz. Além disso, como eu disse anteriormente, esse desenvolvimento completo pode lhe conferir habilidades vocais necessárias para que você consiga mobilizar as estruturas necessárias para um bom drive. Portanto, se seu professor está trabalhando outras coisas na sua voz, pergunte em que isso pode lhe ajudar a chegar no resultado que você deseja. Um bom professor com certeza saberá que o caminho que ele está lhe guiando lhe dará as habilidades necessárias. E, claro, permita-se ser conduzido(a) no processo de desenvolvimento vocal completo. Se você procurou por aulas de canto, afinal, é porque quer ser guiado por alguém, não é mesmo?
  4. “Eu controlo o drive ou ele aparece do nada?”: Esse tópico eu escrevo inspirado numa pergunta de um aluno meu (um roqueiro daqueles dos bons) durante uma das nossas aulas. E isso me fez refletir sobre muito dos meus estudos e das minhas conversas com cantores (amadores e profissionais) que fazem uso do drive. E para responder essa questão eu preciso dividir essa pergunta. Em primeiro lugar, se você controla o drive. Se você aplica PROPOSITALMENTE o drive na voz você deve ficar atento ao primeiro tópico dessa lista: o conforto. Se estiver desconfortável, apertado, estrangulado, ou se ao final de uma performance você teve perdas (algumas notas sumiram, a extensão diminuiu tanto pra agudos quanto pra graves ou a voz ficou um pouco rouca) é porque está errado. Já se você aplica o efeito propositalmente mas sem nenhum ônus, comemore pois, muito possivelmente, você terá uma carreira longa sem nenhum ônus. E se o drive aparece “do nada”? Aí também podemos ter duas situações distintas. A primeira é de cantores que dizem que “botaram” um drive pra deixar mais agressivo um determinado trecho, quando na verdade eles não conseguem emitir aquela determinada nota (ou trecho melódico), com a carga dramática necessária, sem que se apertem. E, de tanto se apertarem, acabam gerando uma séria de constrições que rasgam a voz. Se está assim na verdade você não está controlando o drive, ele é que está controlando você. Ele está, de fato, aparecendo “do nada” e você diz que o “coloca” lá, mas você sabe que não é verdade. Procure um especialista (médico otorrinolaringologista, fonoaudiólogo) para fazer algumas avaliações e um professor para lhe guiar para uma emissão mais eficaz e sem tantos esforços. Por outro lado, algumas vezes o rasgado (ou também rouco, como algumas pessoas dizem) na voz aparece por uma adução (fechamento) de pregas vocais não tão eficiente. Nesse caso não há um aperto exagerado, muito pelo contrário, há tônus de menos. Isso às vezes pode acontecer e, muito possivelmente, você não necessariamente se machucará fazendo isso. Mas também nunca terá um desenvolvimento vocal pleno. Um professor e um fonoaudiólogo poderão lhe guiar para que essa condição seja uma opção, e não a condição única de emitir notas.

Espero ter contribuído para as suas reflexões sobre o drive na voz, efeito tão desejado por tantos cantores(as) de vários estilos. Na minha opinião, concluo que o mais eficaz e saudável é o drive intencional, controlado e confortável. Quando ele é opção (e está confortável), tudo bem. Mais que isso: TUDO LINDO! Quando é única condição, há algo de errado, não é mesmo?

Até a próxima.


Fernando Zimmermann


  1. Muito bom, parabéns pelas considerações extremamente pertinentes e importantes para a galera do canto.

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