Os três elementos da técnica vocal (e você não precisa saber mais do que isso para cantar)

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Luiza Lobo | 01/02/2016

Técnica vocal: como desenvolver a sua voz

Um dos problemas mais recorrentes que percebo em alunos de técnica vocal é o excesso de preocupação com os elementos “controláveis” da voz. Pode parecer estranho, mas de modo geral quanto mais esforço fazemos para cantar, menos deixamos que os exercícios feitos de maneira correta trabalhem em favor da nossa voz.

Durante algum tempo (e isso foi por pouco tempo, felizmente), eu me preocupei excessivamente em apoiar a voz, em controlar o diafragma, a minha respiração (veja o nosso curso Respiração para o Canto) e os músculos intercostais. Tensionava os músculos da minha face e pescoço tentando alterar a posição do palato mole, da laringe, da língua e por aí vai. Chegava a pensar, enquanto cantava, no comando de cada músculo das pregas vocais para tentar dominar completamente os seus movimentos. Tentei até achar lógica em cantar “cheirando flor”, fazendo “sorriso interno“, “força do xixi”, “força do cocô” e umas outras forças estranhas que pareciam até práticas de pompoarismo (quem não sabe o que é, pesquisa no Google).

Eu agradeço o conhecimento que me foi passado por todos os professores e professoras que tive sobre técnica vocal e também respeito a metodologia de cada um. Mas, no meu caso, nada disso serviu muito no desenvolvimento técnico da minha voz. E o problema é que para muita gente também não serve. Na verdade para a maioria não serve, mesmo!

Eu me preocupava em excesso para cantar, como se todos aqueles comandos e elementos “controláveis” da minha voz nunca fossem ficar naturais, a menos que eu pensasse neles o tempo inteiro. Como resultado, eu cantava nervosa, pois além de dedicar minha atenção à melodia da música, ao ritmo, à letra e à interpretação, eu tinha que me preocupar com mais um monte de elementos técnicos. Era bem difícil relaxar em palco. Mas fui percebendo que quando eu cantava descontraída, com o foco em me divertir, eu soava melhor do que cheia de preocupações.

Na minha experiência, notei que quanto mais pensava em ajudar ou forçar a minha voz, pior era o meu resultado. Cantar não é questão de tanto esforço físico e mental, mas sim uma questão de equilíbrio e coordenação que todos podem desenvolver.

É por isso que, ao estudar, se pensarmos em apenas três elementos “controláveis” da voz, tudo fica mais simples e fácil. Afinal, treinando corretamente sua voz apenas a partir desses três elementos pensando em desenvolver equilíbrio e coordenação, você vai ter muito menos coisas para se preocupar na hora de cantar.

Esses elementos são:

  1. Fluxo de Ar;
  2. Músculos (a consistência muscular que se aplica à emissão” e;
  3. Shape (Eu vou explicar exatamente o que é isso).

A lógica é simples e está ligada com a produção natural do som. O ar sai dos pulmões, expulso pelo diafragma ao entrar em relaxamento e passa pelas pregas vocais. Localizadas na laringe, as pregas vocais vibram e transformam o ar em som. São os músculos da laringe que determinam a altura e a duração do som (por consequência, definem as notas cantadas). O som emanado pelas pregas vocais passa pelo trato vocal que, determinado por um shape, vai filtrar, amplificar e articular esse som.

É um processo simples, principalmente se considerarmos que você já sabe fazer isso. Você não pensa no comando do seu diafragma quando respira, não pensa no trabalho de cada músculo da laringe sempre que emite um som, não pensa na posição do seu palato mole para falar.

E porque temos então que pensar em tanta coisa pra cantar? Para ser bem sincera, não acho que temos que pensar em muita coisa, o que temos que fazer é encontrar o equilíbrio desses três elementos em toda a nossa extensão vocal e tornar esse equilíbrio algo cada vez mais natural ao nosso corpo.

Técnica Vocal: Fluxo de Ar

O ar é o combustível da nossa voz e o princípio de uma boa emissão vocal. Mas você já ouviu falar que quem respira bem, canta bem? Eu já ouvi e já me preocupei demasiadamente com a respiração. Mas esse conceito não está completamente certo. Caso contrário, todo nadador profissional seria automaticamente um excelente cantor.

A respiração está diretamente ligada ao que chamamos de apoio (controle do fluxo de ar), à movimentação do diafragma e dos músculos intercostais. Porém, é importante entendermos que o bom funcionamento desses aspectos durante o canto é o RESULTADO de uma emissão equilibrada e de uma boa coordenação em entre fluxo aéreo e pregas vocais. Ou seja, é mais fácil percebermos o apoio, a movimentação do diafragma e dos intercostais como consequência da boa emissão do que como a causa.

Veja a Live no YouTube em que conversamos sobre os mitos de respiração no canto que impedem você de cantar bem:

Músculos – Consistência Muscular

Quando falamos em músculos, vamos considerar os músculos intrínsecos da laringe, que fazem a movimentação das nossas pregas vocais e, portanto, participam ativamente na nossa fonação. São esses músculos que vão determinar a afinação e a duração das notas durante o canto.

Se compararmos nossa voz com qualquer instrumento de cordas, há três fatores que determinam vão determinar a afinação:

  1. O comprimento da corda;
  2. A espessura da corda e;
  3. A tensão da corda.

Quando nós estamos cantando, entretanto, não conseguimos visualizar de forma concreta as movimentações musculares que controlam comprimento, espessura e tensão das pregas vocais.

Por isso, de modo geral, um sem cantor sem treino vai realizar essa movimentação de forma desequilibrada, seja colocando força e tensões a mais ou até mesmo perdendo a firmeza necessária para a execução desses movimentos.

Você não precisa entender nomes de músculos ou estudar profundamente fisiologia vocal para ser um bom cantor. No entanto, o treino através de exercícios feitos corretamente, visando uma boa coordenação muscular e equilíbrio junto ao fluxo aéreo, vai tornar a boa emissão cada vez mais natural e fácil em toda a sua extensão.

Shape

O som emanado pelas pregas vocais vai ganhar suas formas através do shape (configuração, formato) do nosso trato vocal.

O trato vocal é um tubo onde as oscilações naturais do som vão ser aumentadas por suas ressonâncias. Essas ressonâncias são chamadas de formantes da voz. Quando modificamos vogais, estamos modificando os formantes da voz e, portanto, alterando o som.

Experimente fazer a vogal “U” com um som bem bobo e outra vez com o som bem anasalado. Você está alterando o seu shape e pode ouvir o resultado direto na emissão.

De modo geral, o controle do shape é mais fácil quando pensamos no ajuste de vogais do que quando relacionamos esse controle a movimentações muito pontuais como abaixamento de laringe, elevação de palato, etc.

O trato vocal também atua como filtro acústico dos harmônicos produzidos pelas pregas vocais. Esses harmônicos são muito importantes para a caracterização do nosso timbre. Embora esse seja único para cada pessoa, modificações no trato vocal afetam significativamente o timbre, ou seja, podemos desajustar o som da nossa voz através de um desajuste no shape.

Preste Atenção

Vamos considerar então, o exemplo de um cantor que precisa de esforço excessivo para emitir notas agudas. Nesse caso, o fluxo aéreo pode estar muito intenso ou muito fraco, pois nos dois casos vai haver descompensação no trabalho das pregas vocais.

Para ajustar o fluxo, podemos utilizar o exercício de vibração labial, que é um exercício de dupla resistência e promove o equilíbrio Fluxo Aéreo VS Pregas Vocais. No ajuste do shape, iremos utilizar o som da vogal “u”, associado à vibração, para evitar elevamento da laringe e tensões desnecessárias na musculatura extrínseca.

Lembre-se, a prática dos exercícios corretos é o que vai resultar em uma boa emissão, ou seja, você precisa treinar para adquirir coordenação e equilíbrio em sua voz da maneira mais natural e orgânica possível. Todos nós possuímos uma boa voz, apenas precisamos encontrá-la e utilizá-la da maneira mais eficiente.

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Bons estudos e #solteavoz

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Luiza Lobo


Luiza Lobo é Voice Coach e diretora/co-fundadora do Full Voice Studios®, especialista em Ciências da Voz pela Universidade de Coimbra. Dedica-se a explorar o máximo potencial vocal e artístico de cada pessoa e está constantemente se atualizando em cursos no Brasil e exterior para aprimorar o método do Full Voice Studios®

  1. Gostei, temos que simplificar mesmo…vou olhar esse app.. eu vi tambem uma playlist sobre aquecimento bem interessante, a pessoa realmente entende do que está falando.. sobre aquecimento vocal. https://goo.gl/eKKzlK

  2. Nossa que texto maravilhoso, claro e simples porém poderoso na contrução de uma consciência vocal efetiva. Peço licença pra usa lo como complemento nos workshop de canto que vou ministrar esse mês de fevereiro😁 simplesmente expetacular.👏🏽🤝🏻🎤

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